Arquiteto revela lado artista e 1,5 mil obras de arte 'escondidas' há 30 anos

Obras são livros infantis, gibis, cartoons, poemas e músicas.
'Este ano decidi mostrar', diz João de Oliveira, ou Zega, de Itapetininga.


Ele nunca se apresentou em público, nunca expôs uma obra de arte, nem teve o nome publicado em algum livro. Para o mundo artístico, o arquiteto João Jorge Cardoso de Oliveira, ou Zega, de 53 anos, ainda é desconhecido. Mas, apesar disso, Zega, de Itapetininga (SP), possui mais de 1,5 mil obras de arte entre canções, poesias e livros infantis. O acervo começou a ser feito há 30 anos, no fim da década de 1980, e nunca foi publicado desde então.
Em entrevista , Zega mostrou parte das obras e também revelou o acervo completo digitalizado. Segundo ele, são 560 canções do estilo MPB, 520 dessas gravadas em voz e violão; cerca de 500 poemas; aproximadamente 200 cartoons; cerca de 300 histórias em quadrinhos e 25 livros infantis. Para ele, fazer arte é natural.
“Fazer arte para mim foi sempre algo natural, assim como respirar. Não comecei a fazer essas obras com a intenção de publicar. Comecei sem um objetivo e sem uma razão. Nunca quis exibir, pois não estava bom o suficiente. Ao mesmo tempo em que remexia e melhorava obras antigas, eu fazia obras novas. Depois de anos essas obras novas também precisavam melhorar. Passei por várias etapas até chegar aqui. Percebi que estou em um ponto que não tem mais volta e que tenho que exibir minha arte. Agora, não há mais o que fazer senão adequações temporais”, conta.
O artista
A relação de Zega com a arte começou cedo, aos seis anos, conta a irmã mais velha e produtora dele, a curadora de arte Angela Maria de Oliveira. “Ele brincava inventando histórias e personagens. Claro que esse material se perdeu com o tempo. Mas a relação com a arte é desde criança”, conta.
Segundo o arquiteto, tudo começou na infância ao ver o pai desenhar. “É uma coisa de sangue. Levei esse gosto pelo desenho da infância à adolescência, depois para a vida adulta. Sempre criei personagens e histórias. Quando comecei a fazer poesia e música, eu iniciei pelo desenho das notas musicais e pelo desenho das estruturas da música. Não tenho artistas como inspiração e, sim, o estilo de música do Caetano Veloso, Alceu Valença e Gilberto Gil. Na área gráfica é a mesma coisa. Não sou muito consumidor de arte e posso dizer que, antes de qualquer coisa, sou um desenhista”, reflete.
As habilidades gráficas, textuais e musicais foram adquiridas através da prática, um sintoma de autodidatismo, garante Zega. “Tudo o que fiz foi sozinho. Fui pesquisando, fazendo, refazendo e melhorando na prática as obras. Claro que tive orientações, mas nunca fiz aulas, nem de desenho e nem de música. Adquiri alguns vícios, mas acho que são esses vícios que talvez tragam algo de inédito nas minhas músicas e trabalhos”, afirma.
A arte
Como só a família e amigos conhecem o “lado artista” de Zega, o arquiteto conta que sofreu pressão para que pudesse divulgar os trabalhos. “Até minhas três filhas, Ártemis, Andromeda e Erendira, já tentaram 'furtar' um dos meus gibis para levarem a uma gráfica e publicar. Sorte que minha esposa dedurou elas e consegui evitar", brinca.
A cantora Kátia Baroni, amiga do arquiteto há décadas, confessa que já teve vontade de pegar alguma das músicas dele para lançar por conta própria. “Ele não deixa. Não deixa nem a gente ver. Ele sempre está dizendo que não está pronto, mas são ótimas músicas e muito bem elaboradas. Por isso dá vontade de pegar. Só que ele é perfeccionista demais”, comenta.
Depois de ser pressionado, este ano o arquiteto decidiu divulgar o acervo e pretende publicar algumas obras. “Resolvi mostrar tudo, virar a mesa e divulgar tudo que já fiz depois de anos disponível só para a minha família e amigos. Devido à correria da rotina com trabalho, casa, filhas e esposa, foi normal parar de criar histórias e músicas por um bom tempo e não ir atrás das divulgações. Fiquei um período de 10 a 15 anos sem fazer nenhuma obra. A última pausa acabou há uns cinco anos. Hoje, como as meninas já são adultas, tenho mais tempo e estou tentando lançar algumas das obras já prontas. Dei um tempo no trabalho como arquiteto e quero me dedicar à vida artística", afirma.
Orgulhoso, o artista mostrou suas obras  ressaltando que na maioria delas resta apenas a arte final: “Os livros infantis já estão coloridos, resta apenas colocar falas digitalmente e publicar. Os cartoons e as histórias em quadrinhos sobre o personagem Drago (um ser andrógino que vive situações questões filosóficas), precisam de cor. As canções precisam ser finalizadas com outros instrumentos. É muita coisa, mas tudo pronto, é só escolher”, conclui Zega.
Histórias em quadrinho (esq.) e livros infantis (dir.) estão entre as obras (Foto: Caio Gomes Silveira/ G1)
Fonte: G1

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