Gisele Caprara e Flávio Rodrigues estão casados há dois anos.
'A gente faz de tudo para encontrar a felicidade e somos felizes', diz casal.
O casal deficiente visual Flávio Marcos Rodrigues, de 39 anos, e Gisele Caprara, de 27 anos, moradores de Itapetininga (SP), garante que amar não tem relação alguma com aparência e, sim, com o que a pessoa é em seu interior. Mesmo sem nunca terem se visto, os dois afirmam que já começaram a se amar desde a primeira conversa. “Rolou uma química logo no começo da conversa e pelo tom de voz. Amar o outro sem ver o rosto não tem diferença nenhuma, até porque nos conhecemos muito pelo tato e pelo que cada um é interiormente. Podemos dizer que foi amor à primeira vista”, brinca o casal (veja vídeo ao lado).
Em entrevista , Flávio e Gisele contaram que são cegos desde a infância. Os dois se conheceram em 2012, quando foram participar de uma competição esportiva para deficientes visuais em São José dos Campos (SP). Ele é natural de Angatuba (SP) e foi ao evento como atleta de goalball, esporte destinado aos deficientes visuais em que os atletas arremessam e defendem uma bola que faz barulho. Já Gisele, natural de Limeira (SP), disputou atletismo.
Os dois eram amigos em comum de outro casal deficiente visual. Em uma noite durante a competição, Flávio foi apresentado à Gisele pelo amigo. A intenção era apenas jogar dominó, mas acabou surgindo algo a mais entre os dois, diz ela.
“A gente acabou conversando até que uma hora ele me disse que tinha cansado de jogar. Ele perguntou se eu queria continuar conversando e eu aceitei. Depois de algum tempo de conversa ele me perguntou se poderia me beijar. E eu topei. Me apaixonei por ele logo no primeiro dia que conversamos”, descreve Gisele.
Depois do encontro em São José dos Campos, os dois decidiram namorar, mas voltaram para suas cidades e o namoro foi à distância. Flávio conta que chegou a viajar poucas vezes até Limeira para ficar mais próximo da namorada. Contudo, meses depois de iniciarem o relacionamento, ele passou em um concurso público na Secretaria de Educação e mudou para Itapetininga para trabalhar como pedagogo junto com a irmã, que também é deficiente visual.
“Meus pais ficaram muito preocupados por terem dois filhos morando em outra cidade, ainda mais deficientes visuais. Minha irmã teve mais dificuldade de andar sozinha pela rua, mas minha mãe ficou algum tempo aqui até que ela se acostumasse. Hoje em dia nós dois pegamos ônibus e vamos para onde precisamos. Superamos todas as dificuldades”, conta Flávio.
Após se mudar, ele decidiu elevar o nível do relacionamento com Gisele para tê-la mais próxima. “Certo dia fui de carona com um tio até Limeira e ‘raptei’ Gisele para morar comigo. Meus sogros não acreditavam muito que eu tinha a intenção de me casar com ela. Depois que eu a trouxe para morar aqui, ficamos juntos ainda um ano até nos casarmos na igreja, em 2014. E estamos felizes juntos. Para o futuro pensamos até em ter filhos”, conta o esposo.
Somos felizes’
Flávio e Gisele estão casados há dois anos e moram em uma casa no centro de Itapetininga (SP), onde, segundo os dois, dividem as alegrias, o romance, a amizade e as divergências da rotina. Na residência vive ainda a irmã de Flávio, a escriturária Danila Rodrigues, de 30 anos, que também é deficiente visual, além de um cachorro de estimação.
Flávio e Gisele estão casados há dois anos e moram em uma casa no centro de Itapetininga (SP), onde, segundo os dois, dividem as alegrias, o romance, a amizade e as divergências da rotina. Na residência vive ainda a irmã de Flávio, a escriturária Danila Rodrigues, de 30 anos, que também é deficiente visual, além de um cachorro de estimação.
Segundo Flávio, na casa todos têm tarefas para manter o local organizado. Mas, enquanto ele e a irmã saem para trabalhar, Gisele fica responsável pelo almoço, jantar e limpeza. “Ela é muito boa na cozinha e faz tudo sozinha”, garante o esposo.O casal ainda treina duas vezes por semana goalball em um projeto social de Itapetininga. Para Flávio, ter uma vida plena, apesar da deficiência, é algo normal.
“Às vezes encontramos deficientes visuais frustrados com a vida, que têm raiva e tristeza. Normalmente isso acontece com quem perdeu a visão já adulto. No nosso caso, eu perdi a visão com três anos e Gisele aos 6 meses de idade. Então, nós não pensamos sobre como é enxergar. Adaptamos nossas vidas para viver bem. Brincamos, namoramos, ‘assistimos’ jogos do Corinthians juntos. Enfim, a gente faz de tudo para encontrar a felicidade e somos felizes”, ressalta.
Fonte: G1