Motorista, que sobreviveu ao acidente, relatou à polícia que causa foi falha nos freios. Empresa de transporte nega ter recebido qualquer reclamação sobre condições dos veículos. Acidente matou 42 pessoas no interior de São Paulo.
O maior acidente de trânsito no estado de São Paulo nos últimos 22 anos, que aconteceu em Taguaí (SP), e deixou 42 mortos, completou 45 dias neste sábado (9). A batida entre uma carreta e um ônibus que levava trabalhadores aconteceu na Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho, dia 25 de novembro de 2020. Entre as vítimas estavam moradores de Itaí, Taquarituba (SP) e do Paraná.
Mauro Aparecido de Oliveira, de 55 anos, motorista do ônibus, e que foi um dos 12 sobreviventes, teria reclamado várias vezes da má condição do veículo, segundo o advogado de defesa.
Ele dirigia o ônibus da empresa Star Turismo, que tinha como destino a fábrica Status Jeans, em Taguaí. Segundo Mauro relatou à polícia, uma falha nos freios do veículo teria causado o acidente.
A Star Turismo nega ter recebido qualquer reclamação sobre as condições dos veículos e disse que o ônibus do acidente nunca havia circulado com aqueles passageiros, sendo no dia do acidente, a primeira vez que transportou os trabalhadores da empresa de Taguaí.
De acordo com a investigação, alguns passageiros chegaram a dizer para a polícia que o veículo estava em alta velocidade e havia tentado uma ultrapassagem, versão que foi negada por Hamilton Gianfratti, advogado do motorista.
"Eu vejo como uma tragédia anunciada. O próprio Mauro me relatou que, diversas vezes, ele reclamou das condições gerais do veículo, não só do sistema de freio. Pra testemunhar isso há testemunhas, inclusive, vizinhos que se dispõem a testemunhar, dizendo que acompanharam aquela angústia do Mauro em ter que pilotar ônibus em condições não ideais", diz o advogado Gianfratti.
"Em uma oportunidade, ele chegou a se negar a pegar o ônibus. Falou: 'esse ônibus tá sem freio'. Foi cedido um outro ônibus pra ele. Não muito em melhor condição, e outro colega dele passou a assumir aquele ônibus que ele se negou a dirigir", explica a defesa.
A polícia espera um laudo, feito em todos os veículos e no local, para concluir a investigação. O resultado da perícia também deve sair nos próximos dias e mostrar se os freios falharam ou não.
O motorista da carreta, que estava em sentido contrário do ônibus, morreu no acidente. Os outros dois condutores já foram ouvidos, assim como os passageiros do ônibus, exceto o único que ainda está internado.
O último sobrevivente internado é um jovem, de 26 anos, que recebeu alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e está hospitalizado na ala de enfermaria do Hospital das Clínicas de Botucatu (SP).
Além da investigação sobre as causas da batida, a Polícia Civil também apura a responsabilidade de uma das empresas envolvidas na tragédia, em um inquérito paralelo. A Status Jeans, que teria contratado o ônibus para levar os trabalhadores, e a Star Jeans, que estaria operando irregularmente desde outubro de 2019.
De acordo com a Artesp, o ônibus não poderia levar passageiros e já tinha sido multado pelo mesmo motivo outras três vezes. A defesa do motorista alega que as condições dos veículos usados pela empresa eram ruins.
"Não há como imprimir maior velocidade naquele trecho da estrada, por se tratar de uma curva acentuada. Ele viu e sentiu o ônibus da frente frenar um pouco mais forte, ele também freou. Em seguida, houve uma frenagem mais brusca. Nesta segunda frenagem, faltou breque", disse o advogado.
"Ele percebeu que iria bater, realmente, no ônibus da frente. Chegou a divisar o lado direito, pra tirar o ônibus da estrada, mas havia uma ribanceira. Aí, a única rota de fuga que ele tinha era sair para a pista contrária, embora não tivesse visão e tal, mas foi a única opção que ele teve naquele momento, né, de desespero, tomar essa decisão", conta Hamilton.
42 pessoas morreram e a maioria delas morava em Itaí. A data da maior tragédia da história da cidade virou feriado em homenagem às vítimas.
a companheira do caminhoneiro informou que ele não tinha habilitação para dirigir caminhão, tinha apenas habilitação provisória para carro e, por isso, levava outro caminhoneiro junto nas viagens.
A maioria das 42 vítimas foi velada em ginásios de Itaí. As prefeituras de Taguaí e Itaí decretaram luto oficial por três dias.
A Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho é pista simples, não tem pedágios e não são comuns acidentes parecidos no local, segundo a Polícia Militar Rodoviária de Itapeva.
De acordo com o tenente Alexandre Guedes, porta-voz da PM, foi o maior acidente do ano nas rodovias do estado de São Paulo.