Entidade de Promoção e Assistência à Mulher
oferecia atividades educacionais gratuitas na Vila Arruda há 20 anos. Polícia
Civil investiga denúncia de desvio de verba pública.
A Entidade de Promoção e Assistência à Mulher (Epam) de
Itapetininga (SP), que há mais de 20 anos oferecia atividades educacionais
gratuitas para 200 crianças e adolescentes na Vila Arruda, precisou “fechar as
portas” no início deste mês. De acordo com o advogado da entidade Danilo Minali
Orlando, o motivo foi a falta de repasse municipal de aproximadamente R$ 22,4
mil por mês, porque a entidade não prestou contas ao governo (Leia abaixo a posição completa da entidade e da prefeitura).
Em entrevista ao G1, o advogado informou que a suspeita é de desvio
de dinheiro por parte de uma ex-funcionária responsável pela área
administrativa, o que deixou, segundo ele, a entidade sem dinheiro até para
prestar contas para a prefeitura. Por isso, ele registrou um boletim de
ocorrência de desvio de verba. “Ela era encarregada pela administração,
documentos, prestação de contas. Os diretores da entidade e a prefeitura
assinavam documentos apresentados por ela e não conseguiam detectar o desvio”,
afirma o advogado.
O caso é investigado na 1ª Delegacia
de Polícia (DP) de Itapetininga pelo delegado Clóvis Menezes. De acordo com
ele, serão ouvidos os representantes da entidade e da prefeitura. Antes de
indiciar alguém, a investigação tentará descobrir se houve desvio e como ele
aconteceu. “O inquérito está instaurado, mas é recente. Vamos ouvir todos os
envolvidos, talvez até os ex-responsáveis pela organização e pelas secretarias
de Esporte e Promoção Social, que faziam os repasses de dinheiro. Mas não há
datas”, explica.
A educadora social Ana Paula Queiroz foi uma das pessoas
que perderam o emprego com o fechamento da Organização Não-Governametal (ONG).
Porém, segundo ela, o problema de perder o trabalho é pequeno em relação ao
sofrido pelas crianças e adolescentes que deixaram de ser acompanhadas.
“Como nós comentamos, entre nós
funcionários, nós somos adultos, a gente dá um jeito, a gente corre atrás.
Sabemos que está difícil no país a questão de emprego, mas ainda a gente dá um
jeito. O problema são essas crianças e esses adolescentes que estão na rua.
Porque a entidade social atende um público muito carente. Tinham crianças que
vinham para nossa entidade apenas para alimentação. Então realmente nosso maior
problema são as crianças nas ruas”, alerta.
A dona de casa Ana Paula Souza
trabalhava como faxineira enquanto as duas filhas ficavam na entidade. Agora
com o fechamento, ela alega que precisou largar o emprego para ficar com as
crianças. Além disso, como a entidade atendia grande parte dos jovens do
bairro, ela também começou a cuidar de três filhos de uma amiga.
“Nós não esperávamos que iria acontecer isso.
Agora tive que largar meu emprego porque não tenho com quem deixar elas. Não
tem como pagar alguém para ficar, porque cobram muito caro. Está fazendo falta, porque era uma renda
extra para mim trabalhar como faxineira. Meu marido trabalha, mas só o que ele
ganha não dá para todo mundo. O dinheiro que eu ganhava trabalhando era para
elas mesmo. Além disso, era uma tranquilidade, porque além delas ficarem lá, a
gente ficava mais tranquilo. Tinham atividades lá e elas gostavam de lá. Agora
a gente quer que se resolva tudo”, pede.
“É muita saudade, aqui em casa não é muito bom para
brincar, porque não tem muito espaço. É ruim”, lamenta a filha de Ana, Giovana
de Souza Cruz, de 10 anos.
O estudante Celso Henrique, de 16
anos, era um dos assistidos. Segundo ele, a entidade era uma oportunidade para
ter um novo caminho de vida. “Eu descobri a coisa que eu gosto aqui na Epam,
que é a informática. Eu ganhei currículo de espanhol, inglês, informática,
comunicação, teatro e música”, ressalta.
Fonte: G1